Por Luiz Filipe Gonçalves | Publicado em 27 de junho de 2025
Uma iniciativa científica e tecnológica com potencial de transformar o tratamento da tuberculose começou a ser desenvolvida na UNESP. Trata-se do projeto INOVA TB, viabilizado por meio de um convênio entre a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), FUNDUNESP e a própria UNESP. O objetivo é ousado: criar uma plataforma inalável baseada em nanotecnologia farmacêutica para levar medicamentos diretamente aos pulmões, principal foco da infecção.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo com avanços no diagnóstico e no tratamento, a tuberculose ainda está presente entre as principais causas de mortes por doença infecciosas no mundo, principalmente nas regiões como o sudeste asiático, África subsaariana e partes da América Latina. O INOVA TB propõe uma mudança no modelo terapêutico tradicional ao substituir a administração oral por uma via inalável e altamente direcionada, reduzindo efeitos adversos, aumentando a eficácia e melhorando a adesão ao tratamento.
A tecnologia combina sistemas lipídicos nanoestruturados com técnicas avançadas de microencapsulação, como spray drying, que transforma o fármaco em pó seco para uso em inaladores. O medicamento atinge diretamente os alvéolos pulmonares (pequenas bolsas de ar localizadas nos pulmões), promovendo uma ação localizada, rápida e menos tóxica.
O projeto é coordenado por cinco especialistas da área: a Profª. Dra. Andréia Bagliotti Meneguin; o Prof. Dr. Fernando Rogério Pavan; o Prof. Dr. Leonardo Miziara Barboza Ferreira; o Prof. Dr. Lucas Amaral Machado; e o Prof. Dr. Marlus Chorilli.
Segundo um dos coordenadores do projeto, Prof. Dr. Fernando Pavan, a ideia nasceu da combinação entre a urgência clínica e o conhecimento acumulado por grupos de pesquisa da UNESP, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). “Já temos expertise consolidada em sistemas nanoestruturados. Esta iniciativa é a evolução natural desse saber, agora com foco em uma solução real para a saúde pública”, afirma.
Além da tuberculose, a plataforma poderá ser adaptada para tratar outras doenças pulmonares, como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), asma e até infecções virais mais graves. A iniciativa também contempla etapas de validação clínica, incluindo estudo pré-clínicos in vitro e in vivo (fases de pesquisa que antecedem os testes em humanos), e segue um planejamento regulatório voltado à incorporação no Sistema Único de Saúde (SUS).
“O INOVA TB também se destaca por aliar inovação terapêutica, viabilidade industrial e compromisso social e, principalmente, por ter seu potencial transformador. A tecnologia foi pensada desde o início para ser acessível, com foco na realidade brasileira e nos pacientes que dependem do SUS, ampliando o acesso à saúde e contribuindo para a redução das desigualdades” destaca o Prof. Dr. Lucas Amaral Machado.
Para o Prof. Dr. Leonardo Miziara, o INOVA TB vai muito além do desenvolvimento de uma nova terapia para tuberculose. “Essa plataforma representa uma estratégia promissora para respostas rápidas em emergências de saúde pública, como epidemias e pandemias. Adotamos a abordagem Quality by Design como eixo central do planejamento experimental e do desenvolvimento tecnológico, o que garante agilidade, qualidade e reprodutibilidade”, explica.
A Profa. Dra. Andréia Bagliotti Meneguin destaca ainda que o projeto promove a formação de profissionais altamente capacitados, fortalecendo a infraestrutura laboratorial das instituições públicas e amplia o acesso à inovação. “Estamos construindo um ambiente científico sustentável, com potencial de atrair investimentos e gerar propriedade intelectual, posicionando o Brasil na vanguarda da nanotecnologia aplicada à saúde”, enfatizou.
O projeto também está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, como o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), o ODS 9 (Inovação e Infraestrutura), o qual a UNESP está em 1º lugar no mundo no ranking da Times Higher Education (THE) 2025, que avalia o impacto das universidades em Indústria, e o ODS 10 (Redução das Desigualdades).
Finalmente, o Prof. Dr. Marlus Chorilli complementa dizendo que o INOVA TB vai muito além do que uma inovação tecnológica, ele representa uma aposta no direito à saúde e na capacidade da ciência brasileira de gerar soluções concretas para desafios globais .
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